domingo, 31 de janeiro de 2016

Debate/Exposição "Expansão e Desafios da BD Portuguesa" na Leituria


Próximo Sábado, dia 6 de Fevereiro às 17h30, vou estar na livraria Leituria (Rua Dona Estefânia 123A) para a inauguração de uma mostra de pranchas de livros editados pela Kingpin Books (entre os quais estará o meu Vil - A Tragédia de Diogo Alves). 

Dar-se-á também lugar a um debate com o tema "Expansão e Desafios da BD Portuguesa", que contará com a presença dos autores Carlos Pedro, David Soares, Joana Afonso, Mário Freitas, Nuno Duarte, Osvaldo Medina e Sónia Oliveira... Além de mim próprio, claro.

Apareçam.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

"Só mais uma ideia duvidosa" por Sofia Mota, sobre a exposição no AmadoraBD 2015

Durante os preparativos do AmadoraBD 2015, quando me perguntaram qual seria a pessoa que eu gostaria de apontar para escrever o texto sobre a minha exposição, decidi optar por uma via diferente da usual. Haveria certamente um grupo de jornalistas meus conhecidos e outras pessoas ligadas à BD que estariam aptas para o trabalho. No entanto, acabei por convidar alguém que acompanha o meu percurso desde os primeiros esboços do primeiro argumento. Alguém com quem partilho a vida, que me conhece, a mim e ao que tenho feito, como ninguém. Fica o texto da Sofia Mota para o catálogo do festival, ainda por editar.


Só mais uma ideia duvidosa.


Começo por dizer que aceitar o convite para escrever este texto talvez tenha sido uma das decisões mais disparatadas que já tomei. Para quem procura uma leitura com alguma profundidade e conteúdo e, a bem dizer, qualquer interesse no que à banda desenhada diz respeito, o mais sensato será passar directamente para o texto seguinte.

Quando o André me abordou sobre o assunto, e tudo não passava de uma intenção, abstracta e distante, percebi a razão da escolha... "Alguém mais próximo do autor, neste caso a sua mulher, que não pertence ao círculo da BD e que pode partilhar algo mais pessoal, diferente do habitual". OK, achei que fazia sentido. Porque não?

Mas agora, em cima do acontecimento, sem saber bem o que escrever e com umas quantas folhas em branco por preencher, isto já não me parece tão boa ideia.

O que talvez até seja adequado. Ideias duvidosas, com o André, são umas atrás das outras.
Felizmente, algumas acabam por se transformar em algo bom.

O que nos leva a Hawk. A premissa para estas páginas foi um contratempo real que se passou com um amigo que, como o Vicente, se viu forçado a passar um fim-de-semana com um falcão que lhe irrompeu pela casa adentro.

Porém, à parte deste rastilho de inspiração, as personagens da história expõem algo de profundamente pessoal, familiar e autobiográfico. Experiências não somente contadas, mas sentidas ou vividas, na primeira pessoa. Mas provavelmente não é preciso viver com o André para perceber isso. Tal como em quase tudo o que escreve, ele aborda aqui algumas das suas próprias inquietações e consumições, vivendo-as através das suas personagens, e assim procurando um sentido para elas. 

Neste caso, através do desenho do Osvaldo Medina e cor da Inês Falcão Ferreira, leva-nos a acompanhar este Vicente, com todas as suas fobias paralisantes e ansiedade crónica. Explora a dor da perda e a solidão, as aflições da mudança. Põe-nos a pensar em como "o que faz a vida importante são pessoas e momentos que se vão perder para sempre". No fundo, uma história bem disposta.

Com o selo da Kingpin Books, e edição de Mário Freitas, Hawk tem um significado especial porque foi a primeira obra de maior fôlego a ser lançada em nome próprio.

Até lá, ao longo de anos de dedicação, assisti de perto a um crescendo de pequenos marcos e conquistas na sua busca pela oportunidade de poder contar histórias. Que assumem várias formas e feitios mas são sempre, sempre uma parte de quem ele é.

Obviamente, não sou uma académica de BD, nem tão pouco me atrevo a considerar-me uma fã. É que, ao acompanhar o André a encontros do "meio", já fui involuntariamente vista como tal e, ao que parece, isso significa ser abalroada por ininterrupta e, para mim, absolutamente incompreensível verborreia bedéfila. São sacríficios que se fazem por amor. Dizem.

Este meio da banda desenhada apaixonou-o desde cedo mas o percurso como argumentista começou a ganhar forma no último ano da faculdade, quando se viu com apenas duas disciplinas para fazer e, portanto, muito tempo livre; resultado da brilhante ideia de ter chumbado a uma única cadeira em todo o curso... que foi só a cadeira nuclear do 1º ano.

Dedicou-se então a escrever as suas primeiras amostras de argumento, enquanto dirigia o núcleo de banda desenhada da faculdade.  Julgo que mais ou menos por essa altura começaram também as nossas incursões pelo país, fazendo várias centenas de quilómetros para ver, a um canto mal iluminado, numa exposição deserta de uma qualquer cidade do interior, duas pranchas de argumento seu. Quiçá um primeiro e terceiro lugar num concurso com três participações. A verdade é que estas viagens serviam mais como pretexto para passarmos uns fins-de-semana diferentes, só os dois, conhecer novos recantos do país mas, ainda assim, fico satisfeita por poder testemunhar uma evolução até aos dias de hoje. Os eventos tornaram-se um pouco mais concorridos, algumas exposições foram já em nome próprio e, em vez de participar em concursos, começou a fazer livros.

No entretanto, os projectos foram-se sucedendo a um ritmo incessante. Desde a participação e co-edição em vários números da publicação Zona, ao desafio mensal como editor e argumentista de BD na revista Cais, à escrita de Volta, Tiras do Baralho, e o lançamento da Ave Rara com a série Living Will e agora Gentleman, entre outras tantas pequenas publicações e vários argumentos que não chegaram (ainda?) a ver a luz do dia, grande parte do seu tempo é consumido por BD, libertando-me para consecutivos serões de trash TV. Alguém tem de equilibrar a produtividade lá de casa.

Uma etapa determinante neste percurso foi a integração no The Lisbon Studio. Sem qualquer ocupação profissional fixa, decide passar os dias a "trabalhar", disse ele, junto de uma trupe de artistas, ilustradores e afins. Outra das suas ideias. Que, a bem da verdade, se reflectiu num argumentista de BD mais motivado e criterioso, inspirado diariamente pelos vários autores residentes, e restantes amizades que foi formando pelo meio.

Quem conhece o André, tanto pessoal como profissionalmente, sabe como ele consegue ser multifacetado, trocar de "chapéu" e reinventar-se, não se regendo por quaisquer falsas pretensões de coerência. Compreensivelmente, não há área da sua vida onde esta recusa de auto-limitações seja mais óbvia do que no seu percurso como argumentista que, digamos sem medo, acaba por roçar um pouco a esquizofrenia.
                                                   
De facto, até este ponto, acho que a sua única constante tem sido mesmo o esforço diário que dedica ao simples sonho de poder partilhar as suas histórias, de preferência em banda desenhada, com o máximo de pessoas interessadas. Fá-lo por gosto e opção, é certo, mas com uma disciplina e uma perserverança difíceis de encontrar e honestamente irritantes.

Se há uma fobia que o caracteriza é o medo de parar. A inércia causa-lhe urticária. Mesmo que às vezes possa não saber para onde, prefere continuar a andar. Ou a correr. O que, quando estamos perdidos em viagem, por exemplo, não é de todo a melhor ideia. Mas como autor, pelo menos, parece levá-lo sempre a qualquer lado, ainda que lá fique por pouco tempo.

Neste momento, pelo que sei, tem quatro novas histórias prestes a ser lançadas: Vil com Xico Santos (Kingpin Books), Tormenta com João Sequeira e Milagreiro com vários ilustradores (ambos pela Polvo), para além do novo número do seu Living Will, com Joana Afonso. Claro que, para além disto, e apesar de o ouvir constantemente a anunciar que tem de "reduzir" (como se estivesse a falar de droga), tem vários outros projectos em curso. Mas eu já nem tento estar a par de tudo o que vai naquela cabeça. Tentar seria provavelmente um esforço em vão.


No fundo, por mais que isso lhe custe tantas noites mal dormidas ou que volta e meia maldiga a sua mania de se meter em tudo, eu sei que de alguma forma ele há-de continuar a criar o seu caminho através das ideias, por vezes duvidosas, que ele transforma em histórias. Fazendo-o sempre nesta ambiguidade em que vive; algures entre o ímpeto de sentir que tem algo relevante para dizer e a constante insegurança que o faz duvidar se alguém quer ouvir.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

"Se Janeiro Deixar" com João Sequeira



BD publicada na edição de Janeiro da revista CAIS.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Os "Mundos em Segunda Mão" de Zograf


Durante anos, estivesse a trabalhar numa agência de comunicação ou no The Lisbon Studio, fazia sempre duas viagens de carro, ao princípio e ao final do dia. Acabavam por ser uma espécie de exercício de meditação. Procurava colocar as ideias em ordem e algumas vezes posso dizer que esse ensaio se revelou proveitoso. No entanto, nos últimos tempos, uma mudança no percurso profissional fez com que desse mais jeito fazer essas mesmas viagens de comboio. E aí, é justo dizer-se, abriu-se um novo leque de possibilidades.

A leitura de banda desenhada tornou-se mais presente, mais intensa, parte do meu dia-a-dia. E um certo voyeurismo também, pois é comum levantar os olhos do livro por uns segundos e observar os edifícios, os carros, as pessoas que estão à janela ou passeiam à beira-rio. São pequenos momentos de cultura e pesquisa, que posso dizer que quase encontram a fusão perfeita nos dois volumes Mundos em Segunda Mão do autor de BD sérvio Aleksandar Zograf.

Apesar de já por cá andar há alguns anos (esteve presente no Salão Lisboa em 2003 e duas vezes no Festival da Amadora), só agora tomei contacto com parte da sua obra (shame on me!), e fiquei fã. Sou um curioso por natureza e tenho especial predilecção por transportar-me para realidades distantes da minha, sejam elas reais ou não. A verdade é que nestes livros, e através de episódios curtos, Zograf ilustra um passado histórico e pictórico que me interessa muitíssimo, seja a recordar episódios de guerra, os bombardeamentos na sua cidade natal, a apresentar os "tesouros" que invariavelmente descobre em feiras de rua ou a contar episódios de infância, passados no seu país, que me parece tão parecido e tão diferente do meu.

Zograf conhece o património da sua região e explora-o como quer. Descobre-o como bem entende, tomando-nos como cúmplices e parceiros de viagem. Sem seguir regras, sem se preocupar com estereótipos ou ideias pré-concebidas. Este é o seu universo e a sua mensagem, expostos aos nossos olhos de maneira livre e autêntica.

Onde quer que se viva, o mundo é um lugar estranho.

É uma pena que tantos não o vejam como tal.