quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Os "Mundos em Segunda Mão" de Zograf


Durante anos, estivesse a trabalhar numa agência de comunicação ou no The Lisbon Studio, fazia sempre duas viagens de carro, ao princípio e ao final do dia. Acabavam por ser uma espécie de exercício de meditação. Procurava colocar as ideias em ordem e algumas vezes posso dizer que esse ensaio se revelou proveitoso. No entanto, nos últimos tempos, uma mudança no percurso profissional fez com que desse mais jeito fazer essas mesmas viagens de comboio. E aí, é justo dizer-se, abriu-se um novo leque de possibilidades.

A leitura de banda desenhada tornou-se mais presente, mais intensa, parte do meu dia-a-dia. E um certo voyeurismo também, pois é comum levantar os olhos do livro por uns segundos e observar os edifícios, os carros, as pessoas que estão à janela ou passeiam à beira-rio. São pequenos momentos de cultura e pesquisa, que posso dizer que quase encontram a fusão perfeita nos dois volumes Mundos em Segunda Mão do autor de BD sérvio Aleksandar Zograf.

Apesar de já por cá andar há alguns anos (esteve presente no Salão Lisboa em 2003 e duas vezes no Festival da Amadora), só agora tomei contacto com parte da sua obra (shame on me!), e fiquei fã. Sou um curioso por natureza e tenho especial predilecção por transportar-me para realidades distantes da minha, sejam elas reais ou não. A verdade é que nestes livros, e através de episódios curtos, Zograf ilustra um passado histórico e pictórico que me interessa muitíssimo, seja a recordar episódios de guerra, os bombardeamentos na sua cidade natal, a apresentar os "tesouros" que invariavelmente descobre em feiras de rua ou a contar episódios de infância, passados no seu país, que me parece tão parecido e tão diferente do meu.

Zograf conhece o património da sua região e explora-o como quer. Descobre-o como bem entende, tomando-nos como cúmplices e parceiros de viagem. Sem seguir regras, sem se preocupar com estereótipos ou ideias pré-concebidas. Este é o seu universo e a sua mensagem, expostos aos nossos olhos de maneira livre e autêntica.

Onde quer que se viva, o mundo é um lugar estranho.

É uma pena que tantos não o vejam como tal.

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